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27 de ago. de 2012

Cartas a Um Jovem Poeta - Rilke

Paris, 17 de fevereiro de 1903  
 Prezadíssimo Senhor,
Sua carta alcançou-me apenas há poucos dias. Quero agradecer-lhe a grande e amável confiança. Pouco mais posso fazer. Não posso entrar em considerações acerca da feição de seus versos, pois sou alheio a toda e qualquer intenção crítica. Não há nada menos apropriado para tocar numa obra de arte do que palavras de crítica, que sempre resultam em mal-entendidos mais ou menos felizes. As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizíveis quanto se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou. Menos suscetíveis de expressão do que qualquer outra coisa são as obras de arte, — seres misteriosos cuja vida perdura, ao lado da nossa, efêmera.
Depois de feito este reparo, dir-lhe-ei ainda que seus versos não possuem feição própria, somente acenos discretos e velados de personalidade. É o que sinto com a maior clareza no último poema Minha alma. Aí, algo de peculiar procura expressão e forma. No belo poema A Leopardi talvez uma espécie de parentesco com esse grande solitário esteja apontando. No entanto, as poesias nada têm ainda de próprio e de independente, nem mesmo a última, nem mesmo a dirigida a Leopardi.
Sua amável carta que as acompanha não deixou de me explicar certa insuficiência que senti ao ler seus versos sem que a pudesse definir explicitamente. Pergunta se os seus versos são bons. Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem — usando da licença que me deu de aconselhá-lo — peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, — ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: “Sou mesmo forçado a escrever?”
Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples “sou”, então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite de início as formas usais e demasiado comuns: são essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma força grande e amadurecida para se produzir algo de pessoal num domínio em que sobram tradições boas, algumas brilhantes. Eis por que deve fugir dos motivos gerais para aqueles que a sua própria existência cotidiana lhe oferece; relate suas mágoas e seus desejos, seus pensamentos passageiros, sua fé em qualquer beleza — relate tudo isto com íntima e humilde sinceridade.
Utilize, para se exprimir, as coisas do seu ambiente, as imagens dos seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente. Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, esta esplêndida e régia riqueza, esse tesouro de recordações?
Volte a atenção para ela. Procure soerguer as sensações submersas deste longínquo passado: sua personalidade há de reforçar-se, sua solidão há de alargar-se e transformar-se numa habitação entre o lusco e fusco diante do qual o ruído dos outros passa longe, sem nela penetrar. Se depois desta volta para dentro, deste ensimesmar-se, brotarem versos, não mais pensará em perguntar seja a quem for se são bons. Nem tão pouco tentará interessar as revistas por esses seus trabalhos, pois há de ver neles sua querida propriedade natural, um pedaço e uma voz de sua vida.
Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está o seu critério, — o único existente. Também, meu prezado Senhor, não lhe posso dar outro conselho fora deste: entrar em si e examinar as profundidades de onde jorra sua vida; na fonte desta é que encontrará resposta à questão de saber se deve criar. Aceite-a tal como se lhe apresentar à primeira vista sem procurar interpretá-la. Talvez venha significar que o Senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso aceite o destino e carregue-o com seu peso e a sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora. O criador, com efeito, deve ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza a que se aliou. (…)
Com todo o devotamento e toda a simpatia,
Rainer Maria Rilke

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19 de ago. de 2012

O blog do Ponto de Leitura é, resultado das impressões e registros dos jovens do "Projeto SOU JOVEM E TÔ LIGADO"

"O MESMO OUTRO é, antes de tudo, um trabalho de desobrigação, desentulho, travessia..." FAÇA A VIAGEM, É INTRIGANTE.


O mesmo outro é, antes de tudo, um trabalho de desobrigação, desentulho, travessia. Fez-se em forma de insídia, dessas cuja tonalidade vem mudando a parir de dentro. Não deixa de ser uma cilada! Ainda agora é um fruto verde – mas antes que de maduro despenque, já podre, é melhor colher logo. Do ponto de vista de sua lógica, não chega a ser uma matriz ou cópia de alguma outra coisa autêntica. É o que é! O original é este mesmo: um rascunho. Mas, ao mesmo tempo é outrem: é o mesmo mas é outro!(...)
Exceto pelas pequenas distinções de idade, os textos aqui reunidos não chegam a formar uma obra – não no sentido clássico! É apenas uma safra de insônias que nasceu como rascunhos de mim mesmo, cochichos acanhados e sem forma, e foi tomando forma de excedência. Não sei o quanto de poesia há em O mesmo outro, sei apenas da sua necessidade. Suas letras vacilam entre a rima e o pé-quebrado, versos em prosa, expõem, resmungam o atrito do Eu com o Mundo! É minha forma de inscrição rupestre, talhada  a unha no fundo da minha caverna. É meu exercício de nudez. Não vou me desculpar por isto!

O Autor

“Quando a noite for menina feita/ molhar tua boca de refrões refrescos/ frases sem verdades, só sonoridades/ chiados excitados nos ouvidos...” 

Josemar da Silva Martins nasceu em 1967, num sítio chamado São João, interior do povoado rural de São Bento, município de Curaçá - BA. Um dia, ainda no Colégio Ivo Braga, errou por um pequeno detalhe, numa prova de História, o nome no navegador Vicente Yañez Pinzón e ganhou um Pinzoh como apelido. É aprendiz da poesia desde 1984, quando escreveu o poema A Mão. Em 1986, participou da publicação do livro Cometendo poesias (Editora Scortecci), em parceria com José Carlos Rego, Pinduka. Atualmente mora na cidade de Juazeiro - BA, é doutor em Educação e Professor Adjunto da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

MUNDINHO DO RIO, NÓS INDICAMOS


14 MAIO, 2011

Mundinho do Rio

Encantos, pescarias, lendas, curiosidades, culturas e aventuras navegantes recheiam o livro “Mundinho do Rio”, dos autores Cixto de Assis Bandeira Filho e Vanderléa Andrade Pereira. O livro será lançado hoje (14/05) no Centro de Cultura João Gilberto, às 19h.

O livro infanto-juvenil é um registro lúdico da memória ribeirinha, são histórias contadas pelos ribeirinhos do São Francisco, “falas iluminadas de fantasias, de uma magia que faz rememorar infâncias”, como relata a autora Vanderlea Pereira, professora da Universidade Federal de Picos. .

A obra surgiu da pesquisa Micro-Processos de Aprendizagem do Povo Ribeirinho realizada de 1998 a 2000, e a publicação do livro foi viabilizada pelo Programa Banco do Nordeste (BNB) de Cultura em parceria com o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES).

Venham todos para o lançamento do livro, conheçam e se deliciem com as histórias ribeirinhas.

Por Karine Nascimento

Para a criançada, segue um dos livros que mais encantam aos nossos frequentadores do Ponto de Leitura