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18 de nov. de 2011

Resenha do filme Narradores de Javé, por Manuela Rocha Paixão


Narradores de Javé, um filme brasileiro de 2003, do gênero drama, dirigido por Eliane Caffé, conta a história dos moradores do vilarejo do Vale de Javé e o temor destes: uma represa que precisa ser construída e com isso a cidade de Javé será alagada. E para impedir tal fato, a única chance que eles têm é a de provar que a cidade possui um valor histórico a ser preservado. Para isso, precisam colocar por escrito os fatos que só são contados de boca a boca, de pai para filho. Como a maioria dos moradores são analfabetos, para preparar um documento contando todos os grandes acontecimentos heróicos de sua história, então, recorrem ao ex-carteiro da cidade. Um homem banido por todos, que para evitar que o posto de correios do lugar seja fechado começa a escrever cartas para pessoas de outras cidades e conhecidos seus, contando mentiras e calúnias dos habitantes da cidade, para poder assim gerar movimento na agência, e evitar o fechamento da mesma (e assim, preservar o seu emprego). Assim, o malandro Antonio Biá é convocado pelo povoado do Vale de Javé a pôr na escrita as histórias, contadas há anos pelos moradores, sobre a fundação da cidade, os personagens grandiosos e cheios de virtude que habitavam suas lembranças.

Nesse contexto, o filme aborda diversos temas como, a formação cultural de um povo; heranças históricas; crenças; valores; oposição entre memória, história, verdade e invenção; importância da oralidade na construção cientifica; dimensão da escrita e da fala; confronto entre o progresso e as tradições do vilarejo.

É comum ouvirmos as célebres frases "Quem conta um conto aumenta um ponto", "Existem três verdades: a minha, a sua e a que de fato é", "O povo aumenta, mas não inventa". Enfim, são verdades populares que estão na boca do povo e que é o elemento-chave do filme, levando a um confronto entre verdade invenção, memória história.

Em toda a história da humanidade, o povo sempre viveu na oralidade, as crenças, as histórias, as lendas eram passadas de pai para filho, resgatando apenas a memória do passado. Assim como no filme os moradores de Javé buscam escrevinhar um documento cientifico com a história de cidadezinha, é importante destacar que as escrituras que hoje temos acesso surgiram da oralidade histórica de um povo, como por exemplo, a Bíblia, os acontecimentos históricos do Brasil e do mundo, entre outros. Deste modo, a tradição oral vinculada a escrita fortalece as relações entre as pessoas, criando uma rede de transmissão de conhecimentos e modo de vida. As palavras são transformadas em ação, neste ato de contar estabelece-se uma relação de cumplicidade, além de serem repassados conhecimentos.

                                                 Manuela Rocha Paixão

Professora de Geografia, licenciada pela Faculdadede Tecnologia e Ciências - FTC/Ead e especialista em Educação Ambiental pela Unidade Baiana de Ensino Pesquisa e Extensão - UNIBAHIA

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